Questões de português e de comunicação

sexta-feira, junho 08, 2007

Qual o nome das letras do alfabeto português?

(Clique na figura para a ampliar)

Muitas vezes ouve-se dizer "guê" para designar a sétima letra do alfabeto português. A TLEBS também chama desse modo a sétima letra do nosso alfabeto. Mas a Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967 não previa esse nome.
Afinal como surgiram os nomes das letras portuguesas? Que nome tinham as letras em Latim?
Não foi fácil respoder a essas perguntas. Enquanto o nome das letras gregas é a primeira coisa que se aprende nas aulas de Grego, o mesmo já não se passa no Latim. Tivemos que recorrer a Túlio Varrão. Pouco mudando em relação à tradição latina, Túlio Varrão estabeleceu normas fáceis de designação das letras.
A designação das vogais era fácil. Bastava lê-las. A (á), E (é), I (i), O (ó), U (u). Mas repare-se que como nome das letras temos verdadeiras palavras e como tal devem ser acentuadas. As palavras "á", "é" e "ó" são agudas e logo recebem acento gráfico, de acordo com as regras da acentuação.
As consoantes, como o próprio nome indica, "soam com", precisam do apoio de uma vogal para serem lidas. Se a vogal escolhida fosse "ó" talvez houvesse menos problemas. Mas já havia a tradição do "ê" e Varrão apenas sistematizou as regras habituais. E não podia prever as evoluções fonéticas posteriores...
Varrão distinguiu as oclusivas das não oclusivas. Para as oclusivas, bastava acrescentar um "ê": B (bê), C (cê), D (dê), G (gê), P (pê), Q (quê), T (tê). Só que a história não pára e o que era oclusivo deixou de ser: C e G. Mas isso nada alterou em termos de designação das letras. Assim, manteve-se "cê" e "gê", nomes construídos como se se tratasse de oclusivas.
As não oclusivas foram construídas de outro modo. Pôs-se um "e" antes: F (efe), L (ele), M (eme), N (ene), R (erre), S (esse). Ora, aqui está a razão por que temos estas designações construídas de outro modo.

O agá é interessante. A bem dizer não é uma letra, não tem fonema correspondente. O desenho da letra foi tomado do Grego, aliás como quase todas as letras. Em Grego era um êta, um "ê". Foi usado para a aspiração, que habitualmente incidia na vogal "a". Para nomear a letra, dizia-se "a" sem aspiração seguido de "a" aspirado: "aha". A evolução fonética tratou do resto e deu no nosso "agá".

O X (xis), tomado do "csi" grego, também acabou por ser lido como o lemos.

Então e o Z? O Z foi introduzido mais tarde no Latim. E ninguém se lembrou da regra das não oclusivas e deram-lhe o nome como se fosse oclusiva: (zê). Deveria ser "eze", mas nunca foi. Também, em rigor, o G deveria ser "ege" e o C "ece", o que iria colidir com o "esse".
Mais tarde ainda, a partir do I e do U (que se escrevia V) formaram-se duas novas letras: J e V. Deixou-se o desenho I para a vogal e pôs-se uma curvinha na consoante. O nome foram buscar ao Grego, iota, mas lendo com a consoante (jota). O "u" escrevia-se V. Este desenho foi preferido para a nova consoante, enquanto o arredondaram para a vogal: U e V. Também aqui já ninguém seguiu a regra de Varrão e a letra foi designada como se fosse oclusiva: Vê. Em rigor deveria ser "eve".
Em suma, ficou assim:
A (á)
B (Bê)
C (Cê) (1) Evolução fonética posterior
D (Dê)
E (é)
F (efe)
G (Gê) (1) Evolução fonética posterior
H (agá)
I (i)
J (Jota)
L (ele)
M (eme)
N (ene)
O (ó)
P (pê)
Q (quê)
R (erre)
S (esse)
T (tê)
U (u)
V (vê)
X (xis)
Z (zê)
K (capa)
W (duplo vê)
Y (i grego)

Sem comentários:

Arquivo do blogue